Tratamentos para Autismo: opções atuais e novas estratégias

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve desafios complexos, e suas estratégias de tratamento vão desde medicamentos tradicionais até abordagens mais recentes e promissoras, como terapias imunomoduladoras e intervenções baseadas no microbioma intestinal. Neste artigo, exploraremos os tratamentos farmacológicos atuais, terapias alternativas emergentes e a importância das abordagens não farmacológicas.

Índice

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) engloba um conjunto diversificado de impactos no desenvolvimento caracterizadas por dificuldades na comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos.

Frente a essa complexidade, diversos tratamentos tradicionais têm sido empregados visando minimizar sintomas específicos e melhorar a qualidade de vida dos indivíduos com autismo.

Embora nenhuma terapia medicamentosa cure o TEA, a gestão sintomática é essencial para proporcionar melhor integração social, diminuição de comportamentos desafiadores e desenvolvimento de habilidades adaptativas.

Medicação no autismo

Entre os tratamentos tradicionais amplamente utilizados, os antipsicóticos ocupam posição central. Risperidona e aripiprazol são os únicos medicamentos aprovados pela FDA (Food and Drug Administration, agência federal dos Estados Unidos responsável por proteger a saúde pública) especificamente para reduzir sintomas como irritabilidade, agressividade e crises de raiva em pessoas com autismo. 

Riperidona

A risperidona demonstrou eficácia significativa na redução de comportamentos repetitivos, agressividade, ansiedade e hiperatividade, especialmente em crianças e adolescentes. Entretanto, efeitos colaterais como aumento de peso, sonolência e alterações nos níveis hormonais demandam atenção e acompanhamento médico rigoroso.

Aripiprazol

Por outro lado, o aripiprazol, também aprovado pelo FDA, é indicado para o controle de irritabilidade associado ao TEA. Apresenta um perfil mais favorável em relação à prolactina, hormônio afetado frequentemente pela risperidona. Ainda assim, pode provocar efeitos adversos como sonolência e ganho de peso.

Outros antipsicóticos, como quetiapina e olanzapina, são eventualmente utilizados, mas suas aplicações são menos consolidadas devido à menor evidência científica de eficácia específica para TEA e maior ocorrência de efeitos colaterais.

Uso de estabilizadores de humor

Os estabilizadores de humor, particularmente o valproato de sódio, têm sido investigados como opções adicionais na gestão sintomática do autismo. 

Apesar das evidências promissoras no manejo de comportamentos repetitivos, impulsividade e irritabilidade, o uso de valproato exige cautela por conta dos riscos associados, como possíveis malformações fetais em mulheres grávidas e alterações metabólicas. 

Desta forma, o uso desse medicamento é recomendado apenas em casos específicos, sob supervisão médica detalhada e cuidadosa.

Antidepressivos para autistas: eficácias e controvérsias 

A serotonina desempenha papel significativo na regulação de comportamentos e emoções, e disfunções serotoninérgicas têm sido frequentemente associadas ao autismo. Nesse contexto, antidepressivos como fluoxetina e sertralina têm sido testados.

Esses medicamentos podem proporcionar benefícios moderados na redução de ansiedade e comportamentos repetitivos. No entanto, estudos têm mostrado resultados inconsistentes e, em alguns casos, efeitos colaterais como agitação ou comportamentos desafiadores podem ser exacerbados.

Novidades no tratamento do autismo

As pesquisas científicas mais recentes têm ampliado o leque de opções terapêuticas, explorando novos mecanismos e abordagens inovadoras baseadas na fisiopatologia do TEA.

Terapia com Ocitocina

Uma das abordagens mais interessantes dos últimos anos é o uso da ocitocina, hormônio conhecido pelo seu papel na facilitação de interações sociais e vínculo emocional. 

Pesquisas clínicas indicam que a administração intranasal de oxitocina pode melhorar consideravelmente aspectos fundamentais do autismo, como reconhecimento emocional, contato visual e redução de comportamentos repetitivos.

Os estudos estão em fase avançada, porém ainda não há consenso absoluto sobre as dosagens ideais, a frequência de aplicação e os efeitos em longo prazo.

Ação anti-inflamatória e imunomoduladora

Outro caminho terapêutico promissor é o uso de medicamentos com propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras. Estudos indicam que processos inflamatórios podem estar relacionados ao desenvolvimento de sintomas autísticos, sugerindo que a intervenção com medicamentos como celecoxibe ou a utilização de células-tronco mesenquimais poderiam reduzir inflamações cerebrais e melhorar aspectos comportamentais.

Resultados preliminares são encorajadores, mas demandam ainda mais pesquisas antes da ampla aplicação clínica.

Terapias de autismo relacionadas a microbiota intestinal 

A microbiota intestinal ganhou destaque como um fator potencialmente influenciador dos sintomas do autismo. A terapia de transferência de microbiota intestinal, um procedimento no qual bactérias saudáveis são introduzidas no trato gastrointestinal do paciente, têm demonstrado melhorias significativas em sintomas gastrointestinais e comportamentais em pessoas com TEA.

A teoria subjacente é que o equilíbrio microbiano intestinal impacta diretamente o funcionamento cerebral, podendo modular comportamentos e reduzir sintomas como ansiedade e comportamentos repetitivos.

Terapias para autismo sem uso de medicação

Embora os tratamentos farmacológicos sejam importantes, as terapias não farmacológicas desempenham um papel essencial na abordagem global ao autismo, frequentemente sendo consideradas essenciais na gestão a longo prazo.

ABA Estratégias Naturalistas no autismo

As estratégias naturalistas baseadas na Análise do Comportamento Aplicada (ABA Naturalista) têm sido amplamente reconhecidas pela eficácia na promoção do desenvolvimento de habilidades em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

Diferentemente das abordagens tradicionais de ABA, que costumam ocorrer em contextos altamente estruturados, as estratégias naturalistas integram o aprendizado ao ambiente cotidiano da criança, utilizando atividades e brincadeiras do interesse natural dela para ensinar habilidades importantes, como comunicação, interação social e independência funcional.

Essa abordagem é particularmente efetiva por tornar o processo terapêutico mais significativo e agradável para a criança, facilitando a generalização das habilidades adquiridas para diversos contextos sociais e ambientais.

Fonoaudiologia no Autismo

A terapia fonoaudiológica é essencial na intervenção multidisciplinar do autismo, especialmente por abordar diretamente as dificuldades comunicativas comuns ao TEA. O fonoaudiólogo atua tanto na promoção da linguagem verbal quanto na implementação de sistemas alternativos ou aumentativos de comunicação, como o uso de cartões visuais ou dispositivos eletrônicos, dependendo das necessidades específicas de cada criança.

Além disso, a terapia fonoaudiológica auxilia na melhora da interação social, ajudando a criança a entender melhor as nuances da comunicação verbal e não verbal, como expressões faciais, tom de voz e linguagem corporal. 

Esse suporte contribui significativamente para reduzir comportamentos desafiadores que surgem da frustração associada a dificuldades na comunicação.

Terapia Ocupacional no Autismo

A terapia ocupacional (T.O.) desempenha um papel importante nas intervenções do TEA ao abordar questões relacionadas à integração sensorial, habilidades motoras e autonomia nas atividades diárias.

Muitas pessoas com autismo apresentam sensibilidades sensoriais intensas ou dificuldades motoras que interferem no funcionamento diário, desde atividades básicas, como alimentação e higiene, até habilidades sociais e acadêmicas mais complexas.

O terapeuta ocupacional utiliza técnicas específicas para ajudar a criança a desenvolver habilidades motoras finas e grossas, melhorar a integração sensorial e aumentar a independência nas atividades do cotidiano. 

A T.O. também auxilia na criação de ambientes adaptados que facilitam a participação social e educacional das crianças com autismo.

Considerações Finais

A abordagem integrada e personalizada, combinando estratégias farmacológicas tradicionais, terapias inovadoras e intervenções não farmacológicas, representa a melhor prática para promover autonomia, inclusão social e qualidade de vida em pessoas autistas.

A pesquisa contínua e a evolução das estratégias de tratamento são fundamentais para atender de forma mais eficaz e humana às necessidades diversas das pessoas com TEA.

Referência:

https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11944800

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