A ecolalia é um fenômeno comum em crianças que estão em fase de desenvolvimento da linguagem, especialmente naquelas com diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Trata-se da repetição de palavras, frases ou sons que foram ouvidos anteriormente, de forma imediata ou após algum tempo.
Em vez de responder com algo próprio, a criança repete o que acabou de ouvir. Por exemplo:
Você diz: “Quer suco?”
Ela responde: “Quer suco?”
Esse comportamento, que pode parecer “sem sentido”, na verdade tem função importante no processo de aquisição de linguagem.
Tipos de ecolalia
Ecolalia imediata
É quando a criança repete algo logo após ouvir. Pode ser uma tentativa de processar a linguagem, de participar de uma conversa ou até uma forma de responder, mesmo que sem compreensão total.
Ecolalia tardia
Ocorre quando a criança repete algo que ouviu muito tempo depois, uma frase de um desenho, uma música, um comercial. É como se ela estivesse “revivendo” aquela fala fora de contexto, o que pode ter função autorregulatória, sensorial ou emocional.
A ecolalia é um problema?
Essa é uma das perguntas mais comuns de pais e educadores: “Meu filho está só repetindo… ele vai conseguir falar de verdade?”
A resposta precisa vir com acolhimento: não, a ecolalia não é um problema em si. Ela pode ser um passo importante no processo de desenvolvimento da linguagem funcional. Para muitas crianças com autismo, inclusive, é o primeiro sinal de que a linguagem está “acordando”.
Segundo a psicóloga e neurocientista Mayra Gaiato, no livro “Me Ajude a Falar”: “é essencial valorizar cada tentativa de comunicação, mesmo que venha em forma de repetição. O cérebro está trabalhando!”
O que a ecolalia revela?
Quando olhamos com atenção e sem julgamento, percebemos que a ecolalia pode revelar muita coisa sobre a criança:
- Desejo de se comunicar;
- Tentativas de imitação verbal;
- Memória auditiva ativa;
- Busca por previsibilidade e segurança;
- Regulação emocional (a repetição pode acalmar).
Em vez de tentar “cortar” a ecolalia, o melhor caminho é usar esse comportamento como ponto de partida para ensinar a linguagem funcional.
Como estimular a fala a partir da ecolalia?
1. Valorize a tentativa
Mesmo que a criança esteja apenas repetindo, reconheça a tentativa de interação. Olhe nos olhos, responda com empolgação e proponha continuidade.
2. Modele frases simples
Fale de forma pausada e com frases curtas. Em vez de fazer várias perguntas seguidas, dê exemplos do que ela pode repetir com sentido:
“Você quer água? Então diga: ‘água’.”
3. Use imagens e objetos reais
Apontar para objetos enquanto diz seus nomes ajuda a conectar som e significado. Brincadeiras com objetos concretos e de interesse da criança ajudam muito.
4. Estimule a variação
Quando a criança repetir, varie a fala: Ela diz: “Brincar de bola?” Você responde: “Sim! Vamos brincar de bola vermelha!”. Assim, você expande o repertório verbal com leveza.
Ecolalia e o Modelo Singular de Ensino de Comportamento Verbal
No Instituto Singular, a ecolalia é vista com respeito e estratégia. Dentro do nosso Modelo Singular, inspirado na ABA com Estratégias Naturalistas e no Modelo Denver, consideramos a ecolalia como um marco importante no caminho da fala funcional.
Na prática, aplicamos um passo a passo adaptado, que parte da imitação de sons, passa pela repetição de palavras e chega à construção de frases. Muitos dos nossos alunos (tanto crianças quanto seus cuidadores) avançam com mais segurança e confiança quando compreendem que a ecolalia é um trampolim, não um obstáculo.
História real: de repetição à comunicação funcional
No livro Me Ajude a Falar, Mayra conta a história de uma criança que passou meses repetindo frases dos desenhos que assistia, mas sem interagir. Após iniciar a intervenção naturalista, os terapeutas começaram a usar essas frases repetidas como ponto de partida para brincar e ensinar. Com o tempo, ela aprendeu a adaptar essas frases e começou a comunicar seus próprios desejos e sentimentos.
Essa história é um exemplo inspirador de como a ecolalia pode evoluir para a fala funcional, com o suporte certo.
Quando se preocupar?
Se a ecolalia for o único tipo de fala após os 4 anos, e a criança não conseguir utilizá-la para interagir ou se expressar de forma funcional, é hora de buscar ajuda especializada. O mesmo vale se a repetição vier acompanhada de isolamento, ausência de contato visual ou outros sinais de atraso no desenvolvimento.
Um profissional (como um fonoaudiólogo ou terapeuta comportamental) poderá avaliar de forma individualizada e propor as intervenções mais adequadas.
Ecolalia também pode ser uma forma de carinho
É importante lembrar que, para algumas crianças, repetir frases é uma forma de mostrar afeto. Pode ser que ela esteja repetindo algo que você disse num momento feliz, como “te amo”, “você conseguiu!” ou “vamos brincar?”.
Reconhecer isso também é reconhecer que, por trás da ecolalia, existe vínculo, memória, emoção e tentativa de conexão.
Quer saber mais? Leia “Me ajude a falar”, de Mayra Gaiato
Se você está em busca de um guia prático, acolhedor e baseado em ciência para ajudar uma criança com atrasos na fala, especialmente se ela está no espectro autista, o livro Me ajude a falar é uma leitura essencial.
Mayra compartilha histórias reais, estratégias passo a passo e explicações claras sobre como estimular a comunicação, mesmo em casos com desafios intensos. O livro é um verdadeiro abraço em forma de conteúdo.
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