Uma porta que se abre. Um segundo de distração. Um vazio no lugar onde a criança estava.
Para muitas famílias autistas, esse é um dos maiores medos: o de uma fuga repentina, inesperada, e cheia de riscos. Esse comportamento tem nome: eloping, ou elopement. E ele não está ligado à “falta de limites” ou “birra”. É uma reação complexa, que envolve fatores sensoriais, emocionais, neurológicos e sociais.
O que é eloping no autismo?
O termo eloping descreve uma fuga inesperada e não autorizada de um ambiente seguro. No caso de crianças autistas, pode acontecer na rua, em casa, na escola ou até em momentos de lazer.
E diferente do que muitos imaginam, não é algo raro:
- Quase 50% das crianças autistas já tentaram fugir pelo menos uma vez;
- Em muitos desses casos, houve risco real de afogamento ou atropelamento.
É sobre isso que falamos quando falamos de eloping: vida em risco.
Por que uma criança autista foge?
Fugir pode ser a única forma que o corpo encontra para lidar com algo insuportável. Entre os principais motivos, estão:
- Sobrecarga sensorial: sons, luzes, cheiros ou toques que causam incômodo extremo;
- Busca por estímulos: algumas crianças fogem para buscar sensações prazerosas, como pular em um trampolim ou ver água;
- Crises de ansiedade, meltdown ou shutdown: o corpo entra em “modo de emergência”.
- Dificuldade de comunicação: a criança não consegue dizer o que sente ou precisa e então age.
- Curiosidade natural: sem compreender os perigos, ela apenas “vai”.
Não é sobre manipulação. É sobre sobrevivência.
O perigo real do eloping
Quando falamos de eloping, falamos de acidentes que poderiam ser evitados. De acordo com a National Autism Association, o afogamento é a principal causa de morte por eloping entre crianças com autismo.
As consequências vão além do risco físico, pais e cuidadores vivem em constante estado de alerta, a autonomia da criança é impactada por medidas restritivas, a sociedade, despreparada, costuma julgar em vez de acolher.
O que fazer para prevenir o eloping?
Não existe uma fórmula mágica, mas há estratégias que funcionam!
Por exemplo, criar ambientes seguros, com trancas, alarmes, redes de proteção, identificação visível (como o cordão de girassol). Além de manter a supervisão constante, especialmente em espaços públicos e com muitos estímulos.
Outra dica é o ensino de comandos e habilidades de comunicação: palavras, sinais ou figuras para expressar desconforto, e a intervenção comportamental: com foco na prevenção e na compreensão dos gatilhos.
Para plano de ação em caso de fuga, é recomendável envolver a rede de apoio, pensar rotas prováveis, acionar autoridades rapidamente.
Eloping: cada fuga é um pedido de ajuda
Uma criança que foge está, na verdade, comunicando algo. Quando transformamos essa fuga em culpa ou punição, deixamos de ouvir, mas quando a escutamos com o cuidado que ela merece, conseguimos agir com mais empatia e efetividade.
Eloping é um comportamento de risco, sim. Mas também é um reflexo da sociedade que ainda não sabe incluir!
A segurança também é inclusão e o eloping nos convida a fazer perguntas difíceis:
- As escolas estão preparadas para prevenir essas situações?
- Os espaços públicos acolhem corpos neurodivergentes com respeito e suporte?
- A comunidade sabe reconhecer e proteger uma criança que foge?
Enquanto essas respostas forem “não”, ainda teremos muito a transformar.
Eloping no autismo: escutar, proteger, transformar
Fugir sem avisar não é apenas sobre “sair correndo”. É sobre tudo aquilo que foi ignorado antes do passo dado: o incômodo, o medo, a ausência de suporte. Que cada história de eloping seja um lembrete: não basta manter por perto, é preciso incluir de verdade.
Segurança, presença e respeito também são formas de amar.
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Referências