O relatório, que será divulgado pelo Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), indica que os casos de diagnóstico de autismo tiveram um aumento significativo em relação aos estudos anteriores, pois agora, os dados indicam que 1 a cada 31 crianças têm autismo nos Estados Unidos. Em relação aos anos anteriores: em 2020, o índice era de 1 a cada 36 crianças; em 2018, 1 a cada 44.
Essa sequência de aumentos têm chamado a atenção de especialistas, famílias e profissionais da saúde em todo o mundo.
O que significa o aumento da prevalência do autismo?
A prevalência do autismo se refere à proporção de pessoas dentro de uma população que têm um diagnóstico do transtorno do espectro autista (TEA) em um determinado período.
Ou seja, não estamos falando da quantidade total de casos já registrados ao longo da história, mas sim de como o número de diagnósticos se comporta dentro de faixas etárias e recortes temporais específicos.
No caso do levantamento feito pelo CDC, os dados de 2022 foram obtidos por meio de um programa de vigilância ativa que acompanha 16 centros de monitoramento nos Estados Unidos. As diferenças entre as regiões são bastante expressivas: enquanto em uma área do Sul do Texas a taxa foi de 1 caso para cada 103 crianças, em uma região próxima a San Diego, na Califórnia, esse número caiu para 1 em cada 19.
Apesar dessa variação, os autores do relatório alertam que não se trata de um risco maior de autismo em determinadas localidades. Segundo eles, “as pesquisas não demonstraram que viver em determinadas comunidades coloca as crianças em maior risco de desenvolver TEA”. O que se observa, na verdade, são diferenças no acesso aos serviços, práticas de diagnóstico e avaliação precoce.
O que pode explicar esse crescimento?
Para Zachary Warren, diretor executivo do Instituto de Autismo TRIAD do Vanderbilt Kennedy Center e um dos autores do estudo, o aumento da prevalência do autismo tem relação direta com uma maior conscientização, práticas diagnósticas mais consistentes e metodologias de pesquisa mais abrangentes.
Ele reconhece, no entanto, que “existem outros fatores complicados relacionados a um aumento real” e ressalta que o estudo do CDC não foi desenhado para determinar causas. “O que ela nos diz é como o TEA é incrivelmente comum em nossas comunidades”, afirmou em comunicado oficial.
O próprio relatório destaca que há um crescimento no acesso ao diagnóstico por parte de grupos que antes eram pouco identificados, como crianças negras, hispânicas e de comunidades de baixa renda. Também chama a atenção o aumento da identificação em crianças muito pequenas, indicando um avanço na detecção precoce.
Desigualdade no diagnóstico e no acesso ao suporte
Outro ponto importante revelado pelo estudo é que 39,5% das crianças diagnosticadas com autismo também apresentam deficiência intelectual. Além disso, os dados continuam apontando que a condição é mais comum entre meninos, com uma prevalência 3,4 vezes maior em comparação às meninas.
Essas informações evidenciam a importância de políticas públicas que garantam equidade no acesso a avaliações, intervenções e suporte especializado, especialmente para famílias que historicamente enfrentam barreiras no cuidado de seus filhos.
O risco de retrocessos: entre ciência e desinformação
Embora a ciência tenha avançado muito na compreensão sobre o transtorno do espectro autista, a busca por “respostas definitivas” ainda alimenta teorias controversas.
Recentemente, o novo chefe do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., conhecido por sua postura antivacina, anunciou que pretende investigar novamente a suposta ligação entre vacinas e autismo. Apesar dessa hipótese já amplamente ter sido refutada pela comunidade científica.
Em março, os CDC confirmaram que pretendem realizar um estudo em larga escala para reexaminar possíveis causas ambientais para o autismo. Durante uma reunião de gabinete com o então presidente Donald Trump, Kennedy afirmou que “até setembro, saberemos o que causou a epidemia de autismo e poderemos eliminar essas exposições”, referindo-se a um esforço global de pesquisa envolvendo centenas de cientistas.
Essas declarações geraram preocupação entre especialistas, especialmente porque a relação entre vacinas e autismo já foi descartada por dezenas de estudos científicos sérios, publicados em periódicos de referência. O receio é que esse tipo de discurso desenforme o público e enfraqueça políticas de vacinação e cuidados baseados em evidências.
Conclusão
A prevalência do autismo está aumentando, e os dados mais recentes mostram que o transtorno é mais comum do que muitos imaginavam.
Esse crescimento pode indicar tanto um avanço na forma como o autismo é identificado quanto uma necessidade urgente de repensar o planejamento e a estrutura dos serviços de saúde e educação voltados às crianças e famílias.
Com a visibilidade dos números vem também a responsabilidade de garantir que todas as crianças, independentemente de onde vivam ou de sua condição social, tenham acesso a diagnóstico precoce, apoio qualificado e um ambiente de desenvolvimento seguro, respeitoso e inclusivo.
Fontes