Quando estamos olhando para o TEA, os planos de terapia baseados em ciência ABA apresentam as evoluções mais satisfatórias. Contudo, dentro dela, existem diferentes estratégias: a ABA naturalista ou estruturada. Neste artigo, vamos explorar as principais diferenças entre ambas as estratégias, além de entender quando aplicar cada uma delas.
A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) é uma ciência cuja abordagem é amplamente utilizada nas intervenções e no acompanhamento de pessoas autistas. No entanto, diferentemente do que se pensa, também pode-se aplicar ABA em outros campos da psicologia e até mesmo profissionais da pedagogia e da publicidade podem se aproveitar do que ela estuda.
O que é ABA?
Antes de entrarmos em detalhes sobre as diferentes abordagens da Análise do Comportamento Aplicada, é importante entender seu conceito básico.
A ABA é uma abordagem baseada em evidências e sustentada por inúmeros testes. Ela busca entender e aprimorar comportamentos humanos, desde que sejam socialmente relevantes e, para tal, utiliza princípios científicos que identificam as relações funcionais entre esses comportamentos e o ambiente em que a pessoa analisada está inserida.
- Saiba mais em: O que é ABA? Funciona somente para o autismo?
Importância da ABA dentro do TEA
A ABA é tão recomendada e reconhecida dentro da comunidade do autismo devido à sua eficácia comprovada. As novas habilidades que ela pode ajudar a ensinar ou os comportamentos inadequados para os quais fornece o caminho para a redução são de suma importância para melhorar a qualidade de vida das pessoas no espectro autista, ainda mais para aqueles que apresentam um maior nível de suporte.
Isso tudo quando há necessidade e interesse, é claro. Devemos lembrar que autistas podem ser 100% suficientes mesmo sem nenhum tipo de terapia. A regra aqui é analisar a singularidade de cada caso.
ABA naturalista
A ABA naturalista, também conhecida como ensino naturalístico, é uma das estratégias de ensino de habilidades dentro da análise do comportamento. Nessa abordagem, planeja-se as intervenções de acordo com a motivação da criança ou do indivíduo no espectro autista. O propósito é buscar o aprendizado por meio de atividades que sejam reforçadoras para ele.
Brincar de carrinho, de boneca, observar o folhear de um livro ou até mesmo falar de um hiperfoco, por exemplo, são atividades que vão possibilitar intervenções naturalistas, porém, isso depende do interesse de quem está sendo acompanhado.
Quando se está usando essa estratégia, as intervenções ocorrem em um ambiente “mais aberto”, sem tanto controle, onde podem haver outros estímulos e distrações disponíveis. O objetivo aqui é promover a generalização dos aprendizados, de uma forma que cheguem mais perto de “situações da vida real”.
Os reforçadores de comportamento aplicados seguindo os conceitos da ABA naturalista são, frequentemente, intrínsecos às atividades em si, porque, como já dito, as próprias atividades já são reforçadoras. Em uma atividade de pintar, por exemplo, entre uma demanda e outra solicitadas pelo terapeuta, o reforçador pode ser o ato de continuar pintando.
ABA estruturada
Por outro lado, a ABA estruturada segue uma abordagem mais controlada e, como o próprio nome sugere, com maior estrutura em suas intervenções. Aqui, os estímulos apresentam-se de maneira mais sistemática, seguindo o padrão:
- Estímulo -> resposta -> reforçador.
A ABA estruturada é mais “rígida” e, sendo assim, pode ser má interpretada. Segundo Lidiane Ferreira, psicóloga e diretora do Instituto Singular, devemos atentar para os pequenos detalhes para evitar situações do tipo:
“É importante destacar que o ensino estruturado pode ser realizado tanto em uma mesa quanto fora dela. O uso da mesa não é uma condição essencial, como algumas pessoas podem erroneamente nomear essa abordagem (“ABA mesinha”)”.
ABA naturalista ou estruturada: principais diferenças
A ABA naturalista e a ABA estruturada têm como principal diferença a forma de ensinar novas habilidades. Primeiramente, na ABA estruturada, o ensino ocorre por meio de tentativas discretas (DTT), onde o terapeuta apresenta a demanda, a criança responde e tem acesso ao reforçador escolhido. Já na ABA naturalista, o ensino ocorre de forma mais contextualizada, aproveitando as motivações e interesses do pequeno.
Enquanto a ABA estruturada prioriza a apresentação sistemática dos estímulos, a ABA naturalista busca aproveitar as atividades do dia a dia, focando na interação social e na promoção de habilidades de comunicação espontânea. As intervenções são mais flexíveis, permitindo que a criança ou o indivíduo tenha controle sobre o ambiente e participe ativamente da terapia, não sendo “somente” um respondente para as questões do terapeuta.
O Modelo Denver de Intervenção Precoce, por exemplo, é um método de intervenções muito reconhecido que baseia-se nos ensinos naturalísticos. Além disso, as clínicas do Instituto o utilizaram como um norte para o desenvolvimento do Método Singular: nosso jeito próprio de pensar e propor intervenções.
- Leia mais em: Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM)
Na ABA estruturada, por sua vez, as habilidades são fragmentadas em pequenas partes, e o ensino é mais direto e repetitivo. As instruções verbais devem ser claras e o reforço é frequentemente externo, através de elogios, recompensas ou outros tipos de reforçadores.
Resumidamente, podemos dizer que, com as estratégias naturalistas, quem está “no comando” são os pacientes. Já em uma sessão de ABA estruturada, quem dá as cartas e sugere as atividades é o terapeuta.
Quando utilizar cada abordagem?
A escolha entre a ABA naturalista e a ABA estruturada depende das necessidades e características individuais de cada pessoa no TEA. Ambas as abordagens têm seus benefícios e possibilidade de aplicação em diferentes contextos e até na mesma sessão, a depender dos objetivos.
Para promover habilidades sociais e de comunicação espontânea, bem como a generalização dos aprendizados em ambientes naturais, indica-se a ABA naturalista. Essa abordagem é particularmente útil para crianças mais jovens ou aquelas com um perfil de interesse restrito específico.
Já para o ensinos mais complexas e sequenciais, como os que envolvem habilidades acadêmicas, de autocuidado ou de autossuficiência, a ABA estruturada tem preferência. Ela oferece um formato mais organizado e controlado de ensino, o que pode ser útil para crianças com dificuldades de atenção ou que tiram proveito de regras mais claras.
Concluindo
Tanto a ABA naturalista quanto a ABA estruturada são abordagens válidas dentro da Análise do Comportamento Aplicada. As particularidades de cada uma delas são importantes, assim como considerar as necessidades individuais de cada pessoa no TEA.
É importante ressaltar também que a escolha entre essas abordagens não é exclusiva, e muitas vezes pode-se combinar elementos de ambas para atender às necessidades específicas de cada indivíduo. É a equipe multidisciplinar responsável pelo caso que vai, através de uma minuciosa avaliação de perfil e do contexto, definir o melhor caminho.
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