Quando o medo faz sentido: o fascínio de pessoas neurodivergentes pelo sombrio

Filmes de terror e histórias de true crime podem parecer sombrios ou até mórbidos para alguns. Mas para muitas pessoas neurodivergentes, esse tipo de conteúdo representa algo mais profundo: uma forma de explorar emoções, reconhecer padrões e se sentir no controle — tudo em um ambiente seguro.

Tags: Neurodivergência | Autismo | TDAH | Hiperfoco | Terror | Suspense | True Crime | Desenvolvimento emocional | Neurociência

 

Fascínio pelo sombrio: além do susto

Para a maioria das pessoas, assistir a um filme de terror ou mergulhar em uma série de true crime é uma experiência de entretenimento. Mas para muitas pessoas neurodivergentes, como autistas e indivíduos com TDAH, esse tipo de conteúdo pode funcionar como uma forma de regulação emocional, foco intenso e compreensão do mundo. Pode ser uma maneira de explorar emoções intensas sem ser invadido por elas em um espaço seguro, estruturado e com começo, meio e fim.

 

Hiperfoco e atenção a detalhes

O hiperfoco é uma característica comum entre pessoas autistas e também bastante relatada por pessoas com TDAH. Trata-se da capacidade de mergulhar intensamente em temas de interesse, com atenção prolongada e detalhada. Segundo a Teoria do Monotropismo, o cérebro autista tende a operar com foco estreito, priorizando alguns estímulos enquanto ignora outros. Em histórias de true crime ou terror, essa atenção se transforma em investigação: cada detalhe importa, cada pista é analisada.

 

A busca por padrões e sentido

O artigo Talento no autismo: hipersistematização, hiperatenção a detalhes e hipersensibilidade sensorial mostra que pessoas autistas possuem uma sensibilidade aumentada à identificação de padrões, regras e estruturas. 

Com isso, esse desejo nato de ordem pode tornar histórias de mistério e investigação especialmente atraentes. Decifrar crimes, antecipar reviravoltas ou compreender a lógica por trás do caos narrativo pode ser reconfortante.

 

Explorar emoções com segurança

Assistir a conteúdos intensos em um ambiente controlado como filmes de terror ou séries de true crime permite que a pessoa experimente emoções fortes como medo, ansiedade e suspense sem risco real

Para muitas pessoas neurodivergentes, especialmente aquelas com autismo, isso pode funcionar como uma forma de regulação emocional: uma oportunidade de sentir intensamente, mas com controle sobre os estímulos.

Estudos apontam que dificuldades na modulação emocional são comuns no autismo e que estratégias individualizadas, incluindo o uso de interesses específicos, podem ajudar na regulação e no bem-estar.

Em resumo, em casa, com o controle remoto na mão, é possível pausar, retomar ou interromper o conteúdo. Isso oferece uma sensação de segurança que muitas vezes falta em interações do cotidiano.

 

O hype de Tremembé

A série brasileira Tremembé, disponível no Prime Video, tornou-se um fenômeno nas redes sociais após seu lançamento recente. A trama apresenta o cotidiano de pessoas condenadas por crimes que marcaram o Brasil, como Suzane Von Richthofen, os irmãos Cravinhos, Elize Matsunaga, e o casal Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá. 

Cada um desses casos carrega grande carga emocional, moral e investigativa. Isso ajuda a explicar o fascínio que a série provoca em muitas pessoas, especialmente aquelas que buscam entender padrões, motivações e desfechos complexos.

Tremembé combina diversos elementos que costumam gerar forte interesse em pessoas autistas: 

  • Enredo investigativo com pistas e mistérios; 
  • Personagens moralmente ambíguos, que provocam reflexão; 
  • Estética sombria, narrativa tensa
  • Previsibilidade estrutural (com início, conflito e resolução). 

Desta forma, para quem tem perfil analítico, sensível a detalhes, com grande senso de justiça ou aprecia padrões, Tremembé oferece uma experiência de imersão emocional e cognitiva ao mesmo tempo em um ambiente seguro e controlado.

 

Limitações, diversidade e cuidados

Nem toda pessoa neurodivergente (ou não) gosta desse tipo de conteúdo. É essencial observar reações emocionais, impactos no sono, sobrecarga sensorial ou consumo compulsivo. O importante é que o consumo seja consciente, respeitoso aos limites sensoriais e emocionalmente seguro.

 

Nem estranho, nem errado: só diferente

O que parece mórbido para alguns, pode ser um canal legítimo de expressão, conexão e compreensão para outros. Ao invés de julgar o interesse, vale entender o que ele comunica sobre o funcionamento da mente e das emoções.

 

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