Crianças que estão dentro do transtorno do espectro autista (TEA) apresentam, com frequência, questões sobre seletividade alimentar. Para entender o assunto, é preciso compreender a inflexibilidade mental e as dificuldades sensoriais, que são características do autismo. Por isso, devemos entender que seletividade alimentar não tem nada a ver com frescura ou birra. Na verdade, ela é uma dificuldade que a criança com TEA tem para introduzir novos alimentos em sua dieta.
É comum que crianças no espectro autista apresentem dificuldades e seletividades na alimentação.
Muitas vezes, as crianças com TEA têm um paladar restrito, que pode se modificar com o passar dos anos. Contudo, a seletividade alimentar deve ser trabalhada desde cedo. Caso contrário, é possível que a alimentação permaneça restrita por um longo tempo. Isso, por fim, pode causar prejuízos para o organismo dos nossos pequenos. É muito importante que eles se alimentem bem. Por isso mesmo, usar dietas alimentares (que, aliás, ainda não têm sua eficácia cientificamente comprovada) como uma forma de terapia para autismo pode ser algo bem delicado!
Vamos então entender o que é a seletividade alimentar, muito comum nos autistas. Depois, vamos ver como cuidar dela!
Seletividade: inflexibilidade e resistência
A criança com seletividade alimentar come poucos alimentos, ou até mesmo apenas uma opção de comida. Além disso, ela se recusa a experimentar algo novo e pode resistir fortemente a fazer suas refeições em locais diferentes da sua rotina. Os alimentos também nunca devem ser misturados no prato. Qualquer alteração na sua rotina, por mínima que seja, prejudica sua alimentação. Aliás, existem crianças que às vezes recusam qualquer alimento!
Por que isso ocorre? Já falamos sobre a questão da rotina da criança no TEA. Mas os fatores sensoriais também sao muito importantes.
Seletividade alimentar também é seletividade sensorial!
As crianças podem sentir dificuldade em incorporar alimentos novos devido a diversos aspectos sensoriais. Podemos citar cheiro, cores, visão, texturas, pedaços grandes, sabor (tempero) e temperatura, por exemplo. Como falamos, muitos fatores podem interferir na seletividade alimentar. Há casos de portadores com TEA que, no início da intervenção, só comiam alimentos de uma cor ou textura, ou comidas que quase não tinham temperos, por causa do cheiro.
Como sabemos, essas são características muito comuns em autistas. Além de serem muito sensíveis a aspectos sensoriais, eles apresentam também uma inflexibilidade quanto à sua rotina e aos seus objetos prediletos. Assim, isso pode ocasionar dificuldades também na alimentação!
A princípio, a seletividade alimentar não possui regra ou algo específico que a determine. A criança simplesmente não tem vontade de experimentar novos alimentos. Para as famílias com crianças que passam por essa questão, os momentos das refeições costumam ser tensos. Algumas famílias fazem com que a criança coma de forma forçada, ou introduzem de forma brusca esses novos alimentos. Muitas vezes, isso ocorre por falta de informação, pois os pais interpretam esse comportamento como uma birra ou frescura. Assim, as refeições se tornam aversivas aos pequenos, o que torna o problema ainda mais grave.
Isso tudo, porém, não tem nada a ver com birra, muito menos frescura! Como vimos, faz parte do funcionamento atípico de certas crianças. Não devemos, portanto, forçar de maneira brusca novos alimentos nem novos hábitos na rotina de um pequeno com autismo. Isso é aversivo e piora a situação. Mas como podemos, então, incluir novos alimentos na dieta das crianças? E como devemos agir quando as introduções não vão de acordo com o esperado?
Introduzindo novos alimentos
Uma boa dica é fazer o que nós chamamos de dessensibilização. Por exemplo: no início, deixe o alimento novo próximo ao prato da criança, para depois, quando ela não repelir mais aquela comida, colocar um pouco dela no prato. Mas sempre faça isso com um alimento por vez, pois assim eles costumam ser mais aceitos. Desta forma, a criança se acostumará aos poucos com o cheiro, o visual, a textura, e a aparência do alimento. Se mesmo assim houver resistência, tente substituir por outro. Mas lembre-se: sempre um por vez, combinado?
O mais importante aqui é que a criança aprenda a comer aquele alimento no próprio tempo dela. Quando não gostamos de algo, é legal que nos forcem a aceitá-lo? É claro que não! E isso é ainda mais delicado no caso das comidas. Sabendo que não é birra, podemos ajudar nossos pequenos aos poucos, respeitando sua forma de viver e seu ritmo, de maneira saudável.
A hora da refeição deve ser prazerosa para família e para a criança. Desta forma, peça ajuda para arrumar a mesa, para preparar os pratos e assim por diante. Também é legal ter jogos americanos ou objetos – como pratos e copos – de personagens de que a criança goste. Tudo isso é uma boa forma de incentivo!
Se a primeira tentativa não for bem sucedida, não castigue e nem obrigue a criança comer. Apenas não desista do processo, e repita aos poucos a apresentação dos novos alimentos, sempre respeitando o tempo dela.
Quer mais dicas sobre seletividade alimentar? Então, assista ao vídeo: