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Filho com autismo e irmãos sem diagnósticos: como lidar?

26.10.2021
Autismo Cuidados Dica

Quando temos um filho com autismo, é preciso se atentar, também, aos irmãos – mesmo que eles não tenham nenhum transtorno no desenvolvimento. Nossa casa pode ficar tão submersa na intervenção do pequeno que, mesmo tomando todos os cuidados do mundo, corremos o risco de colocar as necessidades emocionais dos irmãos em segundo plano. Se você está sentindo dificuldades na adaptação dos seus pequenos quanto à rotina da família após o diagnóstico de autismo do irmão, esse artigo é para você!

Nós sabemos: quando nasce um filho, acontecem grandes mudanças! Não só na rotina da mãe e do pai, como também na família, na casa, tudo! Basicamente, toda a atenção precisa ser dirigida para o bebê. O que antes era prioridade, agora é deixado de lado e é focado somente no que é necessário. O que chamávamos de ‘hobby’, torna-se uma noite bem dormida. Muitas vezes é preciso se ausentar do trabalho e até o companheiro não ganha mais a mesma atenção de antes… Mas, e o irmão?

autismo e irmãos

Muitas vezes, os pais acabam – sem querer ou sem perceber – ‘’se esquecendo’’. Entre muitas aspas, é claro! De qualquer forma, isso é natural e acontece pois, naquele momento, o caçula passa a ser o maior foco deles. A família pode não perceber, mas grande parte da atenção é direcionada para o novo integrante da família.

Cada criança tem sua subjetividade. Porém, quando o irmão mais velho percebe que não está mais recebendo a mesma atenção de antes, isso pode tornar-se um problema; tanto para sua infância, como para sua vida adulta. E é muito comum isso acontecer nas famílias, por mais cuidadosos que os pais tentem ser.

Mas e quando trata-se de um filho com autismo? Como lidar com os irmãos?

Aí, é claro que a atenção e os cuidados com esse filho vão precisar ser redobradas! Aquele bebê, que antes era considerado super frágil, agora é visto como mais delicado ainda. Vai precisar de mais dedicação, apoio e, principalmente, muita estimulação. E a colaboração e a participação da família para as terapias da criança vai ser essencial!

Mas, e o irmãozinho? Ah, ele é “neurotípico”, não tem nenhum transtorno no desenvolvimento, não precisa de tanto apoio, atenção e dedicação… Será?

Pois é! Os pais, sem perceber, começam a usar todo seu tempo com aquele filho atípico; afinal, ele realmente precisa de mais estimulação e apoio. Mas, por mais que não pareça, aquele irmão típico sente isso. Ele percebe que não está mais recebendo a mesma atenção de antes e que, muito provavelmente, está se tornando ‘invisível’.  

Quando por exemplo, a criança quer mostrar ou falar algo (que é interessante para ela), os pais acabam notando somente o que o outro irmão, que tem autismo, falou. Ou quando ele solicita algo, os pais, novamente, prestam atenção no pedido do outro, afinal pode ser esse um dos objetivos que estão sendo trabalhados nas terapias para serem estimulados! Então, o irmão típico passa a ser ignorado de novo.

É muito comum isso acontecer e, por muitas vezes, passar desapercebido dentro das famílias. É importante os pais se atentarem a esses sinais, pois os irmãos sem diagnósticos precisam de atenção e amor assim como o filho com autismo. Então, como fazer para dividir essa atenção, já que agora essa família vai precisar dedicar tanto tempo para o outro filho, que realmente necessita de mais ajudas?

Como dividir a atenção nesses casos?

Em primeiro lugar, valorize igualmente, as conquistas e os atos de cada um deles. Sempre.

Nunca deixe de justificar os motivos pelos quais a sua atenção, por muitas vezes, está muito mais voltada para o outro irmão. Explique para seus filhos que o irmãozinho precisa de mais apoio e peça a ajuda deles. Sim, eles vão querer te ajudar, pois assim eles receberão a sua atenção! Naquele momento em que eles estiver do seu lado elogie, explique o quanto o auxílio e a participação deles é importante, diga o quanto você os ama e como vocês, juntos, são importantes para esse irmão.

autismo e irmãos
Keir Gilchrist e Brigette Lundy-Paine interpretam os irmãos Sam e Casey na série Atypical!

Fale para ele o quanto eles são importantes para você, os ensinando como te ajudar. Saiba reconhecer tudo o que eles fizerem pelo irmão, corrigindo caso necessário. Explique como eles poderiam agir para estimular, de maneira eficiente e correta. Desta forma, além de você ter novos parceiros e colaboradores, você está dando atenção e amor para eles também! Muito provavelmente, eles se sentirão mais confiantes e vão conseguir entender, na prática, como agir com o irmão, sem o perigo de considerá-lo um membro da família “mais amado” e “mais querido”.

Além disso, ensine-os a brincar e interagir junto com o irmão. Peça para a terapeuta ensinar algumas estratégias para as crianças conseguirem chamar atenção do irmão para as brincadeiras! Assim, no futuro, eles terão lembranças boas da infância, de como eles foram especiais e importantes para o desenvolvimento do irmão. Isto por que a família, o tempo todo, afirmou e mostrou isso na prática para eles.

Os cuidados de hoje terão resultados no futuro!

Por fim, pensando nesse contexto em que a família adotou estratégias relativas ao irmão, muito provavelmente, seus filhos sem diagnósticos terão pouca probabilidade de se sentirem crianças ‘’isoladas’’, ‘’mal amadas’’ e ‘’abandonadas’’, por ‘culpa’ do irmão. Ao contrário disso, poderão desenvolver muitas possibilidades de se olharem como indivíduos eficientes e capazes de encarar os desafios, características essas que são importantes para uma vida adulta. E isso porque a família sempre os colocou nessa posição! Além disso, o filho com autismo não será “excluído” pelos irmãos e sempre encontrará neles um porto seguro.

E agora te faço uma pergunta: Você tem dado atenção suficiente para seu outros filhos? Pense um pouco sobre tudo isso… Muitas vezes, pequenos gestos e e palavras podem mudar muita coisa!

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Autor(a): Equipe Instituto Singular

Psicólogas e Terapeutas

Esta dica foi escrita em conjunto por algumas psicólogas e terapeutas do Instituto Singular. Todos os artigos deste site são escritos por profissionais especializados em autismo e desenvolvimento infantil.

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