Seletividade alimentar no autismo: principais desafios

Questões sensoriais tem papel central na delicada relação entre autismo, infância e alimentação.

Índice

Dentre as características comportamentais frequentes em casos de pessoas com desenvolvimento atípico, encontram-se as alterações alimentares, as quais para os casos de TEA podem ser apresentadas como comportamentos alimentares repetitivos, ou como posto na literatura, identificada através da definição de seletividade alimentar (APA, 2014). Tais alterações nos padrões de se alimentar da pessoa com autismo podem ocasionar consequências para a saúde dos mesmos, como desnutrição, obesidade, desequilíbrio hormonal e vitamínico, além de consequências na aprendizagem e no desenvolvimento (Mazahery et al., 2016, Lázaro; Siquara; Pondé, 2019, Silva; Santos; Silva, 2020).

Para melhor compreendermos as especificidades da seletividade alimentar, a mesmo pode ser definida pela tríade: recusa alimentar, aversão em consumir novos alimentos e uma ingestão reduzida de variedades (Rocha et al. 2019). Tal quadro pode ser apresentado em diferentes níveis de preocupação a partir da condição e agravamento da situação e do indivíduo em questão, diversos tipos de padrões de comportamento alimentar podem ocorrer, como resistência em provar novos alimentos, cheiro, gosto, textura e cor dos alimentos também interferir na alimentação saudável, e dessa forma inevitavelmente com a insuficiência de nutrientes ocasionar agravos à saúde e funcionamento do organismo (Sella e Ribeiro, 2018).

A literatura registra ainda que tais condições, de recusa e dificuldade alimentar no TEA, estão interligadas às questões sensoriais próprias do quadro do autismo, o qual os mesmos apresentam maior sensibilidade frente a determinados estímulos, o que a longo prazo pode ocasionar inclusive na recusa pela mastigação ou pelo próprio engolir se tal condição não for trabalhada, tornando-se assim o alimento um estímulo aversivo e não reforçador para a criança (Sella e Ribeiro, 2018; Posar e Visconti, 2018; Harris et al., 2021). Dessa forma é notório que a seletividade alimentar aplicada em especial a pessoas com desenvolvimento atípico, engloba inúmeros desafios e dificuldades, as quais merecem atenção além, claramente de uma intervenção focada e especializada para redução e/ou amenização de tais padrões disfuncionais de comportamento.

Contudo, é importante salientar que o tratamento e as intervenções destinadas não somente ao autismo em si, mas as suas particularidades, como a seletividade alimentar, abordada nesse momento, são complexos, englobando o auxílio de profissionais distintos, como nutrição, psiquiatria, psicologia, fonoaudiologia entre outros, além da intervenção continuada, a fim de que como propõe os pressupostos teóricos da análise do comportamento, possamos alterar padrões e formas de se comportar consideradas disfuncionais e inserir novos modelos em seu repertório, reduzindo assim os dados à saúde e aumento a qualidade de vida (Mazahery et al., 2016; Sella e Ribeiro, 2018; Harris et al., 2021).

Referências

  1. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION [APA]. Transtornos Depressivos. In: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. p. 155.
  2. Harris, H. A., Micali, N., Moll, H. A., van Berckelaer-Onnes, I., Hillegers, M., & Jansen, P. W. (2021). The role of food selectivity in the association between child autistic traits and constipation. The International journal of eating disorders, 54(6), 981–985. https://doi.org/10.1002/eat.23485
  3. Lázaro, C. P.; Siquara, G. M.; Pondé, M. P. Escala de avaliação do comportamento alimentar no Transtorno do espectro autista: estudo de validação. J. bras. psiquiatr. 68 (4) • Oct-Dec 2019 https://doi.org/10.1590/0047-2085000000246
  4. Mazahery, H., Camargo, C. A., Jr, Conlon, C., Beck, K. L., Kruger, M. C., & von Hurst, P. R. (2016). Vitamin D and Autism Spectrum Disorder: A Literature Review. Nutrients, 8(4), 236. https://doi.org/10.3390/nu8040236
  5. Posar, A.; Visconti, P. Alterações sensoriais em crianças com transtorno do espectro do autismo. J. Pediatr. (Rio J.) 94 (4). Jul-Aug 2018. https://doi.org/10.1016/j.jpedp.2017.11.009
  6. Rocha G. S. S., Júnior F. C. de M., Lima N. D. P., Silva M. V. da R. S. da, Machado A. da S., Pereira I. C., Lima M. da S., Pessoa N. M., Rocha S. C. S., & Silva H. A. C. da. (2019). Análise da seletividade alimentar de pessoas com Transtorno do Espectro Autista. Revista Eletrônica Acervo Saúde, (24), e538. https://doi.org/10.25248/reas.e538.2019
  7. Sella, A.C; Ribeiro, D. M. Análise do comportamento aplicada ao transtorno do espectro autism. Editora Appris, 1ª edição, Vol 1. 2018.
  8. Silva, D, V.; Santos, P. N. M.; Silva, D. A. V. Excesso de peso e sintomas gastrintestinais em um grupo de crianças autistas. Rev. paul. pediatr. 38. 2020. https://doi.org/10.1590/1984-0462/2020/38/2019080
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